A língua cigana
A língua cigana (o Romani) deriva do sânscrito e possui elementos de base comum ao Hindi, Bengali, Panjabi; línguas do Norte da Índia, sendo apenas utilizada entre elementos da mesma etnia. Desta forma, língua espelha o grau de proximidade social que se pode ou que se quer ter com outro cigano, permitindo a este demarcar-se do meio estrangeiro que o rodeia. Não sendo compreendido fora do meio cigano possibilita um sentimento de orgulho e de superioridade mas também a sensação de uma proteção social (Costa Carneiro, 1997).
Ser-se cigano: os valores de um povo
Para este povo, os valores giram em torno da família, a cultura e “raça” cigana. Aceitam no entanto, as leis, os costumes, a língua e a religião dos países por onde passam já que esta é uma cultura dominada pelo nomadismo (Costa Carneiro, 1997).
Aqui não existe qualquer tipo de chefe institucional; cada Cigano é o chefe da sua família. O controlo social no interior da comunidade cigana é muito forte, e a desobediência à tradição é sancionada. As crianças deste povo são socializadas e educadas em grande liberdade e o convívio intergeracional é intenso, assim crescem a imitar os mais velhos e é-lhes permitida grande liberdade de ação, como por exemplo: comer e dormir quando lhes apeteces, quando se suja algo não são censurados, etc. (Costa Carneiro, 1997).
Os rapazes quando crescidos acompanham os pais na venda, já as raparigas ficam em casa a cuidar das tarefas domésticas e dos irmãos mais pequenos. Já no que toca ao casamento, o rapaz tem idade para casar a partir dos 15-16 anos e a rapariga a partir dos 13-14 anos de idade.
As alianças e a importância da família
Para os ciganos, na família, existem três acontecimentos fundamentais: o casamento, o nascimento dos filhos e a morte. O casamento traduz um pacto entre os grupos que se ligam como fator de estabilidade e preservação da cultura cigana. O nascimento dos filhos é o momento que marca verdadeiramente o reconhecimento do homem pela comunidade. Quando nasce o primeiro filho, o homem passa a ser visto como um verdadeiro chefe de família, com autoridade autónoma. A morte é um tema sagrado para esta cultura, acreditam que estes possuem poder sobre os vivos, pelo que lhe dirigem pedidos como a proteção. O respeito pelos mortos é tal que o uso ofensivo dos seus nomes é das maiores ofensas que se pode fazer a um Cigano (Costa Carneiro, 1997).
O controlo social
Na comunidade cigana existe um forte controlo social, que garante a regularidade, a perenidade e a coesão das estruturas sociais. Trata-se assim de um conjunto de regras e de proibições, muitas das quais ligadas à limpeza e noção de pureza, higiene do corpo, preparação dos alimentos etc. Entre os ciganos a autoridade é de tipo patriarcal, sendo exercida geralmente pelo mais capaz, como o avô ou outro adulto, sendo que um homem responsável é um homem respeitado. Quando é atribuída uma sanção, toda a família do réu é afetada, pois a responsabilidade é coletiva (Costa Carneiro, 1997).
Organização económica
A economia cigana é uma economia de subsistência, uma economia do momento presente. O cigano não perde muito do seu tempo a prever ou a planear o futuro, pois para eles só o presente conta, o instante que passa, sendo que o passado serve para perturbar o espirito e o futuro é incerto. Vivendo o dia-a-dia, praticam uma economia diária, quando têm dinheiro gastam-no sem preocupações, muitos só trabalham quando sentem necessidade de dinheiro para comer.
A sua ocupação tradicional é o negócio, a venda ambulante em feiras e mercados, de artigos como roupa, calçado, alcatifas, etc. os filhos trabalham para o pai, acompanhando-o nas idas às feiras. Este tipo de negócio, permite-lhes manter a sua liberdade, trabalhando sem horários rígidos e sem patrões e, dispor do seu tempo disponível para se ocupar de assuntos sociais (Costa Carneiro, 1997).
A escolarização das crianças ciganas
Para os ciganos a educação escolar não é mais do que uma parte, reduzida ou nula, da educação dos seus filhos, pois a educação das crianças surge como função coletiva da sociedade cigana, relegando-se assim a importância da escola.
Existem vários fatores que criam problemas à escolarização das crianças ciganas tais como o nomadismo, condições de extrema pobreza de muitas famílias, vivendo em habitações sub-humanas sem condições sanitárias, tornando-se incompatível com hábitos de estudo; a distância da escola e a falta de transportes; a situação de analfabetismo dos pais que não mostram interesse pela escolarização dos filhos; o deficiente acolhimento na escola e o próprio ambiente escolar que é, por vezes, desfavorável à criança cigana. Muitas vezes os professores encaram-nas como um estorvo para o melhor andamento da classe (Costa Carneiro, 1997).
Acrescem-se ainda obstáculos relacionados com questões culturais. A educação da criança, realizada no seio de três ou quatro gerações é baseada na oralidade: usos, costumes, normas, valores, etc, não existindo qualquer tipo de contacto com livros. É uma educação para a independência, para a aquisição de autonomia tendo sempre como ponto de referência o respeito pelo grupo e pelos seus valores. A separação da comunidade, o ir para uma instituição que lhe é estranha, é para estas crianças algo de muito violento, tornando-se o meio escolar insólito para elas.Finalmente a escola representa ainda, da perspetiva do Cigano, o afastamento das tradições ciganas, tão defendidas, pelo que é encarada com receio (Costa Carneiro, 1997).
Aprofunda o teu conhecimento com:
www.acidi.gov.pt/_cfn/54be867b629d5/live/Estudo+Nacional+sobre+as+Comunidades+Ciganas
Ver também:
www.acidi.gov.pt/es-imigrante/servicos