Imigrantes
Em todos os países de acolhimento de imigrantes, a integração dos seus descendentes constitui um dos maiores desafios à sociedade, incomparavelmente mais complexos do que a integração da primeira geração. Enquanto os “pioneiros” estão disponíveis para enfrentar todas as dificuldades e têm como referência a comparação com as condições mais hostis do seu país de origem, os seus filhos, muitas vezes já nascidos no país de acolhimento, não viveram o processo migratório, nomeadamente na dureza das suas causas. A comparação que encontramos, é mais uma análise interativa e inter-relacional e permite proceder à comparação de informação – justamente com os jovens da sua idade que permanecem no país, - com os jovens originários do país onde residem. E aí, as diferenças são, muitas vezes, flagrantes (Monteiro, 2012).
As condições socioeconómicas das suas famílias, em norma mais pobres que a média nacional, empurra-os para as margens da exclusão social, com impacto na habitação, na saúde ou na educação. A esta marginalização socioeconómica acresce igualmente a discriminação em função da origem, racial, étnica ou nacional. A desigualdade de oportunidades manifesta-se em vários domínios. Atravessa os seus percursos escolares e desafia os seus projetos de futuro académico e profissional, dificultando o rompimento e a superação do universo profissional de inserção dos seus países, e a construção de trajetórias de mobilidade social ascendente. Estende-se depois até à duríssima discriminação no acesso ao trabalho, passando igualmente pelos efeitos perversos dos preconceitos e/ou dos estereótipos, que os minimizam. Ainda há muitos portugueses “europeus” que se afastam de um negro, que lhe negam habitação, trabalho, por causa de séculos de desprezo e de repugnância (Monteiro, 2012).
Um aspeto importante é a necessidade da integração dos jovens que chegam a Portugal em idade adulta e que nasceram no seio de famílias conservadoras nos seus valores, que se integram na sociedade portuguesa noutros níveis de sociedade. A sua integração assume diferentes parâmetros, dos daqueles que já nascem em Portugal, com origem em famílias desestruturadas (Monteiro, 2012).
Numa época onde cada vez mais são visíveis os efeitos da globalização, os fluxos migratórios de homens e mulheres de uns países para outros assumem uma importância crescente no contexto europeu, e até mundial, a que Portugal, enquanto membro de pleno direito da União Europeia não ficou alheio. No último quarto de século, a comunidade imigrante em Portugal sofreu um aumento crescente. No espaço atual europeu e num mundo que tende cada vez mais para a globalização como aquele em que vivemos, os fluxos migratórios de homens e mulheres tornam-se um fenómeno incontrolável. As variáveis de desenvolvimento entre os países resultaram em marcadas assimetrias ao nível do crescimento económico, aumentando a diferença entre países ricos e países pobres. Por outro lado, o desequilíbrio demográfico existente entre os países mais desenvolvidos, com uma população envelhecida, e os mais pobres, constituídos por uma população jovem, ávida de trabalho e de melhores condições de vida, acentuaram estes fluxos (Monteiro, 2012).
Neste contexto, importa que Portugal se associe a este esforço, através de definição e execução de uma política transparente, adotado soluções definitivas e estruturantes, ao invés de medidas avulsas e transitórias (Monteiro, 2012).
Os jovens e o ensino
A escola assume um papel preponderante na vida destes descendentes, na medida em que é o principal local de contacto entre os filhos dos imigrantes e os restantes jovens da comunidade de acolhimento. Desempenha, por isso, a importante função de socialização, integrando as crianças e os jovens no seu grupo etário e nos códigos e comportamentos característicos desse grupo independentemente das diferenças étnicas e culturais. Assim, a escola, conjuntamente com a família, é um bastião de transmissão de cultura, conhecimento e normas de comportamentos. Da criança é esperado que conjugue estes dois mundos culturais, inserindo – se no meio envolvente e, paralelamente, adquirindo o capital cultural herdado da família.
Sendo a maioria dos descendentes de imigrantes em Portugal bastante jovem, a escola torna-se um espaço privilegiado no diagnóstico do seu processo de adaptação, da avaliação do seu rendimento escolar. Por outro lado, os resultados escolares são também um indicador das diferenças entre os estudantes, das desigualdades potenciais na sua adaptação económica e social, da probabilidade de sucesso ou insucesso a longo prazo, da possível mobilidade profissional (Monteiro, 2012).
Ao nível escolar, distinguem-se duas dimensões relevantes: - comportamento e rendimento escolar, que têm fortes ligações entre elas, sendo estas informações obtidas através de entrevistas a alunos e professores:
a) Ao nível do comportamento:
- Foram feitas várias referências ao tempo de estadia em Portugal: enquanto os alunos que vivem no país de acolhimento há pouco tempo, apesar de geralmente apresentarem maiores dificuldades na aprendizagem decorrentes de estarem ainda atravessar uma fase de adaptação, são bastante disciplinados; os jovens que nasceram em Portugal ou cá se encontram destes muito novos são apontados como mais problemáticos (Monteiro, 2012);
- Vários professores afirmaram que, contrariamente ao que é comum pensar-se, os alunos mais indisciplinados não são os descendentes de imigrantes, mas sim os alunos de origem portuguesa que vivem em bairros com graves problemas sociais (Monteiro, 2012).
b) Relativamente ao desempenho escolar, o sucesso dos jovens angolanos, apesar de globalmente baixo, é superior ao de jovens membros de outras comunidades, pois a língua materna dos angolanos é o português, demonstrando mais facilidade na lingua inicialmente (Monteiro, 2012).
De modo a atenuar estas diferenças, é necessário que nos meios de comunicação se possa passar a mensagem de que as diferenças quando existem são para serem ultrapassadas e de maneira alguma se tornarem no padrão da condenação. Deverão ser coautores de um futuro comum, participando de pleno direito na política e na cultura, nas artes e na economia. Sem eles, Portugal será mais pobre. Com eles, ganharemos todos. É a luta da Humanidade pela Humanidade (Monteiro, 2012).
Aprofundar conhecimento com:
www.oi.acidi.gov.pt/docs/Estudos_OI/ESTUDO%2050.pdf
Visitar também:
www.acidi.gov.pt/es-imigrante/informacao/associacoes-de-imigrantes-em-portugal
Ver vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=JGTWMpvbGPo&feature=youtu.be