Desde que há registos escritos há referências dos nómadas a viajar pela Europa, no entanto, na sociedade contemporânea eles são cada vez mais vistos como forasteiros, esta marginalização ocorreu na última metade do século anterior perante a correlação da riqueza e do sucesso com uma maior realização escolar o que abriu novos caminhos de carreira e uma maior inclusão na sociedade (Fraser, 1992).
Hoje em dia, temos os nómadas ciganos que criam eles próprios as suas oportunidades de emprego através da feitura de vedações, corte de árvores, trabalhos de jardinagem, compra e venda de artigos em segunda mão, mercado, etc. Apesar de ser do conhecimento comum este estatuto étnico, os ciganos continuam a ser alvo de discriminação diariamente (Okely, 1996).
Um outro grupo de nómadas são as pessoas do circo, vistos como uma comunidade de trabalho são regidos por um conjunto de códigos e regras entre os seus membros. Estes trabalham por sua vez na manutenção das feiras históricas e shows agrícolas, e recentemente, também em exposições e conferências de serviço, abrindo salas de jogos e lazer temático. Apesar da forte identidade e cultura que governa esta indústria, estes nómadas rejeitam qualquer rótulo de estatuto étnico (Jordan, 1993).
Uma questão a ter em conta, é que as mobilidades constantes não são compatíveis com idas regulares à escola. Na Escócia em 1985, o contracto de Vagrancy propunha mesmo retirar as crianças a estas famílias para que estas pudessem usufruir do seu direito à educação. Já nos inícios do sec. XX na Escócia saiu uma lei que obrigava que estas crianças tivessem no mínimo 200 presenças entre Abril e Outubro na escola, dando o resto da época a possibilidade das crianças viajarem com a sua família (Jordan, 1993).
Os nómadas são o grupo de pessoas mais iletrados e não qualificados e por isso, têm usufruído de um conjunto de medidas como tratamentos nos atos Europeus, resoluções, recomendações e a ajuda de fundações com vista a aumentar a igualdade no acesso à educação e aumentar o seu treino, o que inerentemente traz mudanças na sua cultura e no seu estilo de vida. Hoje em dia, tem-se tentado promover a educação não alterando os padrões tradicionais da cultura e os estilos de vida (Jordan, 1993).
Uma investigação realizada com o objetivo de compreender esta cultura nómada do circo por Elizabeth Jordan da Universidade de Edinburgh, mostrou que as mentalidades têm mudado e as pessoas deste meio estão mais conscientes da importância da escola como uma forma de poderem tratar os papeis do trabalho, do seguro, da saúde, da segurança, dos impostos, dos regulamentos das autoridades locais, etc. Mas neste caso, quanto mais tempo se está na escola menos tempo se tem para aprender o negócio, dado que são capacidades que demoram muitos anos a adquirir. Já os ciganos, não se encontram tão recetivos às potencialidades da educação, pois consideram que a escola representa um conjunto de perigos tais como: drogas, educação sexual, comportamentos desviantes da sua cultura e por isso, faz com que haja menos adolescentes a frequentar o ensino secundário. Todavia, também não podemos descartar o papel do racismo institucional como provocador de uma maior auto-exclusão destes indivíduos da escola. Desta forma, em ambos os tipos de nómadas é dado valor sobretudo à educação continuada para a identidade social e cultural pelos próprios membros da comunidade (Jordan, 1993).
Para estas pessoas, o lar é o grupo familiar e não a caravana ou algum sítio específico (Okely, 1983). Nesta família há oportunidades de trabalho e todos se encontram envolvidos e incluídos, desenvolvendo as suas capacidades e conhecimentos para o enriquecimento da profissão, assim as crianças desde muito cedo ganham a consciência da importância de se fazer planos e trabalhar. Desta forma, desenvolvem as suas capacidades sociais e de trabalho no seio da comunidade que também os controla dado que não podem quebrar as regras porque sendo um meio pequeno facilmente se sabe, sendo pressionados a não envergonhar as suas famílias. Em contraste com este modo de vida, a escola oferece a estas crianças uma vida de dependência: para a instrução, para o planeamento das aprendizagens, para a permissão e para o controlo do comportamento. Até porque parece que muitas pedagogias aplicadas em sala de aula parece não refletirem a promoção da autonomia do aluno, a aprendizagem colaborativa entre aluno-professor e a inclusão social (Biott and Easen, 1994; Thomas et al., 1998).
Uma outra questão para estas crianças é que passando tanto tempo de viagem com a família (têm regime especial de frequência escolar) durante as férias da escola perdem o contacto com o seu grupo de pares e têm tendência a não respeitar tanto as normas implícitas nem as explícitas da sala de aula. Tanto na história literária como na história familiar, estas crianças não são expostas à ideia da escola como uma fonte de aprendizagem e de prazer. Não havendo em casa qualquer história de sucesso escolar nem qualquer expectativa que a criança tenha sucesso neste domínio. Já as escolas, também possuem pouca informação sobre este grupo e como devem trabalhar com ele, considerando que estas crianças não têm uma aprendizagem significativa durante o período escolar. Estes jovens, tendem a ter as capacidades verbais/de fala e de ouvir o outro bastante desenvolvidas sobretudo no sentido de: negociar, fazer valer o ponto de vista e de persuadir, o que acaba por não ser bem visto no ambiente de sala de aula (Jordan, 1993).
Na escola primária tanto os ciganos como as crianças do circo reportam que, apesar dos irmãos estarem distribuídos nas turmas por idades, os mais velhos tendem a sentir um grande pressão para a proteção da segurança e bem-estar dos mais novos, o que lhes provoca grande ansiedade. Não ajudando à inclusão destas crianças na escola, está por exemplo os pais de crianças ciganas não as deixarem participar em visitas de estudo mesmo quando estas são grátis pois têm medo que lhes aconteça algo. Parece também que a educação baseada no sucesso académico fomentada pelos professores não é congruente com as expectativas impostas nestas crianças e esta mobilidade frequente faz com que tenham que começar de novo constantemente em cada escola por que passam ou então os professores acabam por desanimar a priori devido a experiências anteriores em que começam a trabalhar com o aluno e quando este está a ter sucesso tem de se ir embora (Jordan, 1993).
A Comissão Europeia perante as dificuldades destes viajantes propôs que o ensino à distância poderia ser uma boa alternativa para fomentar a realização escolar destas crianças, permitindo uma aprendizagem e um progressão académica independente. No entanto, tem se verificado que os materiais disponibilizados produzem uma aprendizagem local e imediata mas não há transferência para outras situações. Também se tem compreendido que as novas tecnologias incluídas no ensino têm um papel motivador na aprendizagem das crianças, havendo uma maior inclusão neste tipo de ensino do que nas escolas (Jordan, 1993).
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www.reveduc.ufscar.br/index.php/reveduc/article/viewFile/49/64
www.youtube.com/watch?v=RtddrgWOopA