Crianças de famílias desfavorecidas

 

Os maus tratos à criança são um fenómeno complexo, podendo manifestar-se das formas mais variadas e cruéis, revestindo-se de maior ou menor visibilidade social, mas que raramente ocorrem isolados. Poucas pessoas têm consciência que uma das principais causas de morte na infância nos países ocidentais é o maltrato físico e a negligência que ocorre dentro das famílias. Por exemplo, nos Estados Unidos, o maltrato é responsável por 76% das mortes até aos 6 anos, e 77% dos responsáveis por essas mortes são os pais (Azevedo & Maia, 2006). Em França e Inglaterra há cerca de 30000 casos novos registados todos os anos, e em Portugal há cerca de 15000 crianças institucionalizadas, a maioria devido ao facto de os pais não oferecerem as condições adequadas ao seu desenvolvimento. Estes números são assustadores, mas sabe-se que muitas crianças são maltratadas no segredo dos seus lares e muitos destes casos só são relatados na idade adulta. De facto quando se questiona os adultos acerca da sua história, cerca de 20% das mulheres relata situações de abuso sexual, e o abuso físico, psicológico e negligência são ainda mais frequentes (Azevedo & Maia, 2006).

Os maus tratos arrastam consigo, a curto, médio ou longo prazo, situações de sofrimento físico, psíquico e emocional, com sérias repercussões, que se tornam incompatíveis com o bem-estar e qualidade de vida implícitos a uma existência saudável. Várias investigações têm vindo a demonstrar que as crianças maltratadas, comparativamente com as não maltratadas, apresentam maiores perturbações nas funções pessoais e sociais, mais altos níveis de sintomas comportamentais e piores resultados escolares (Azevedo & Maia, 2006). A maioria dos estudos têm ainda demonstrado que a negligência é o tipo de maltrato que mais afecta o aproveitamento escolar. A investigação mostra ainda que entre as pessoas adultas com doenças psiquiátricas a história de adversidade na infância é elevadíssima e que quanto pior a história piores os sintomas físicos e psicológicos (Azevedo & Maia, 2006).

Factores culturais, económicos, sociais, familiares e individuais podem influenciar a ocorrência do maltrato infantil. De acordo com os modelos sociológico e ecossistémico, os factores socioeconómicos e culturais poderão contribuir para a produção do maltrato infantil intrafamiliar. Segundo estes modelos, as condições económicas e sociais podem provocar níveis de “stress” que poderão estar na origem de situações de maltrato e negligência, uma vez que determinadas condições de vida das famílias podem interferir na qualidade da relação que se estabelece entre pais e filhos. Sabe-se que os maus tratos não se restringem às famílias mais desfavorecidas social e economicamente. Porém, sabe-se também que determinadas condições de vida de muitas famílias, como situações de pobreza, desemprego, insegurança no emprego, entre outras, as torna mais vulneráveis, o que constitui um perigo acrescido uma vez que tais situações lhes provocam elevados níveis de “stress” que funcionam como factores de risco para a ocorrência do maltrato às crianças (Azevedo & Maia, 2006).

Vários estudos têm demonstrado que há uma alta percentagem de crianças vítimas de maus tratos que têm dificuldades escolares. As crianças maltratadas, quando comparadas com as não maltratadas, apresentam piores resultados escolares e são mais propensas à repetição de ano têm mais faltas disciplinares, são mais dependentes dos seus professores, logo menos autónomas, apresentam maiores distúrbios nas funções sociais e mais altos níveis de perturbações comportamentais (Azevedo & Maia, 2006).

As diferentes formas de maltrato são situações que, pela sua gravidade, exigem o esforço, empenho e contributo imediato de todos, no sentido de minimizar o sofrimento das vítimas assim como diminuir o número das mesmas. Mas antes de pensar ou planear a intervenção é importante ter informação sobre a extensão do problema e a forma como os cuidados prestados à criança afectam a sua adaptação (Azevedo & Maia, 2006).

O Efeito da pobreza nas crianças 

O que significa a pobreza para as crianças? Como é que a falta de rendimentos influencia a produtividade das crianças no seu dia – a – dia? É através de uma nutrição inadequada; menos experiências de aprendizagem; instabilidade na residência; baixa qualidade das escolas; exposição a toxinas ambientais, violência familiar; ruas perigosas; ou menor acesso a amigos, serviços e, para os adolescentes, empregos? (Brooks – Gunn & Duncan, 1997).

Nascimento

Um peso baixo na altura do nascimento (2.500 gramas ou menos) e a mortalidade infantil são indicadores importantes da saúde da criança. O baixo peso está associado a uma maior probabilidade de problemas subsequentes na saúde física, cognitiva e emocional, que podem persistir ao longo da infância e adolescência. Deficiências físicas graves e dificuldades de aprendizagem são mais prevalentes entre crianças que nasceram com peso baixo, tal como níveis baixos de inteligência e resultados mais fracos a matemática e na aprendizagem da leitura (Brooks – Gunn & Duncan, 1997).

 

Habilidades Cognitivas

As crianças que vivem abaixo do limiar da pobreza têm mais probabilidade de vir a experimentar dificuldades de aprendizagem e atrasos no seu desenvolvimento que crianças com estatuto sócio – económico elevado. As crianças mais pobres obtiveram menos 6 a 13 pontos nos vários testes padronizados de QI, capacidade verbal e realização. Estas diferenças são muito grandes do ponto de vista educacional e podem significar, por exemplo, a diferença entre ser colocado numa turma de educação especial ou não (Brooks – Gunn & Duncan, 1997).

Os efeitos da pobreza no desenvolvimento cognitivo surgem desde logo na fase inicial da vida da criança. O estudo (Brooks – Gunn & Duncan, 1997) também concluiu que a duração da pobreza é um fator importante, e que contribui para os fracos resultados destas crianças nas medidas da capacidade cognitiva. As crianças que viviam num agregado familiar persistentemente pobre (definidos neste estudo como pobres durante um período de quatro anos) tiveram resultados mais baixos do que crianças que nunca foram pobres.

Sucesso Escolar

O nível de instrução é reconhecido como um preditor poderoso das experiências de vida na idade adulta. Um estudo, que analisava a relação entre o rendimento dos pais e o sucesso escolar concluiu que a pobreza limitava o mesmo, mas que o efeito no número de anos de escolaridade posteriormente concluídos era pequeno. Em geral, os estudos sugerem que um aumento de 10% no rendimento familiar está associado a um aumento de 0,2% a 2% no número de anos de escolaridade concluídos (Brooks – Gunn & Duncan, 1997).

Estudos mais recentes, usando diferentes conjuntos de dados longitudinais também concluem que a pobreza tem um pequeno impacto negativo na conclusão do ensino secundário e anos de escolaridade obtidos. Grande parte da relação observada entre o rendimento e a escolaridade parece estar relacionada com uma série de fatores confusos, tais como escolaridade dos pais, a estrutura familiar e as características da vizinhança. Mas todos os estudos sugerem que, após um controlo adequado de todas as variáveis, os efeitos da pobreza no desempenho escolar, ainda que pequenos, tendem a ser estatisticamente significativos (Brooks – Gunn & Duncan, 1997).

Conclusão

Rendimentos familiares mais baixos durante o ensino pré - escolar e primário exibem uma correlação mais forte com baixos índices de conclusão do ensino secundário, em comparação com um baixo rendimento familiar durante a adolescência. O ensino (escolas) de baixa qualidade (típico em escolas localizadas em bairros pobres) pode exacerbar esse efeito. Estes resultados sugerem que a intervenção desde a primeira infância pode ser crítica na redução do impacto da pobreza na vida das crianças (Brooks – Gunn & Duncan, 1997).

 

Aconselhamos também a leitura suplementar:

observatorio-das-desigualdades.cies.iscte.pt/index.jsp?page=projects&id=123

unesco.atlasproject.eu/unesco/file/7ccb1dde-ab76-4631-94de-2f5f7088c0cf/c8c7fe00-c770-11e1-9b21-0800200c9a66/181754e.pdf

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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