Observação de situações educativas
1. Questões em torno do processo de observação
Sem dúvida que a grande tarefa do psicólogo(a) é observar, especialmente neste contexto de psicólogo(a) da educação e psicólogo(a) escolar. Analisar não apenas por analisar, para rotular, para qualificar, para diagnosticar, mas essencialmente para intervir de forma intencional e com objetivos bem definidos. Por se tratar de uma atividade inicial e devido à sua complexidade, é de grande importância refletir sobre os vários vetores deste processo. A observação é um processo complexo, bastante abrangente, continuado e sistemático (Couceiro, 2013).
Quando se menciona a observação em contextos académicos há que responder a seis questões fundamentais:
1- O que é observar?
Relativamente ao que é observar, pode dizer-se que é um processo fundamental, não tendo um fim em si mesmo; independentemente de haver ou não objetivos pré-definidos o olhar é sempre seletivo, surgindo aqui várias vezes os problemas, os erros (ex: inferências, generalizações, reatividade – efeito de Hawthorne), subjetividade, contaminação, desejabilidade social, efeito de Pigmalião, dissonância afetiva (será que a realidade é real?, leio a realidade com os meus afetos) e as confusões. Os erros estão direcionados para os obstáculos da observação, integrando aqui as dificuldades do observador, do observado e do próprio processo de observação. Assim sendo, há a necessidade de se limitar o campo de observação, necessidade de determinar objetivos claros de observação e analisar os dados, planificar e observar em diferentes situações (Couceiro, 2013).
2- Porquê observar?
Observar submete-se ao serviço de métodos mais complexos, como por exemplo a avaliação, o diagnóstico, o julgamento, a investigação, experiência e a intervenção; o objetivo destes processos é essencialmente recolher informação.
Para além da observação/avaliação psicométrica, é dada também relevância à observação/avaliação autêntica, dinâmica, baseada em critérios não apenas para compreender as dificuldades, mas também para potenciar os aspetos fortes e as capacidades dos indivíduos (Couceiro, 2013).
3- Quem é observado?
Refere-se ao objeto de estudo, aos alvos pretendidos e aos conteúdos de intervenção do psicólogo(a) da educação. Tal como Ana Paula Couceiro (2013), refere no seu livro Psicologia da Educação, passa pela observação “de factos, representações, expetativas, atribuições, indivíduo (s), interações, situações, comportamentos verbais e não-verbais, componentes afetivas, psicomotoras, cognitivas, relacionais, processos cognitivos, metacognitivos, equipamento, planos dos professores, dispositivos pedagógicos, espaços, atividades, estratégias, materiais (quantidade, qualidade, grau de pertinência, disposição, comportamento (s) do professor, do (s) aluno (s) [todos os sujeitos intervenientes das situações educativas], das interações, … etc. No âmbito mais escolar, observar o tipo de ensino, o ambiente de sala de aula, a análise das tarefas/atividades, o currículo, os planos de trabalho, as reflexões, os pensamentos (representações) do professor e do aluno, os comportamentos de interação professor/aluno (s), a relação entre alunos”.
4- Como observar?
Existem 3 formas de modalidade de observação: direta, indireta e mediatizada; dependendo do que se observa e porque se observa.
- Observação direta está dividida em métodos verbais (tais como think aloud, questionários, inquéritos, entrevistas, brainstorming e associação livre, interações verbais professor-aluno, grau de diretividade do educador) e métodos não-verbais ou de realização (tempo de reação e tempo na tarefa, o movimento dos olhos, a deteção de erros, desenhos e grafismos e a observação do comportamento em ação, checklist (listas de verificação), rating scales (escalas de apreciação tipo Likert));
- Observação indireta temos por exemplo os questionários, inquéritos, escalas de auto-registo, narrativas, memoriais, diários, portefólios ou por interposta pessoa;
- Observação mediatizada tal como vídeos, áudios, e fotografias (Couceiro, 2013).
5- Quando observar?
A observação é tanto mais rigorosa quanto mais planificada, pensada, refletida e registada for. Uma vez recolhida a informação, através dos instrumentos de registo da observação, esta deve ser interpretada. Não esquecendo que, só depois de ser realizado um determinado número de observações durante um período de tempo e em variadas situações, é que um padrão de comportamentos começa a emergir. Assim sendo, a mensagem veiculada é de que o psicólogo(a) educacional, escolar e o educador devem observar sempre, de forma atenta, sistemática, tal como um investigador permanente (Couceiro, 2013).
6- Onde observar?
Deve-se realizar em todos os contextos do sujeito ou do acontecimento a observar, pois o observador tem responsabilidades na intervenção, devendo ainda ter em consideração a frequência, a duração e o contexto de ocorrência das situações (Couceiro, 2013).