Psicologia da Educação e Psicologia da Instrução/Escolar
1. Delimitação concetual
A psicologia da Educação e a psicologia Escolar parecem ser duas facetas da mesma moeda, enquanto unidades interdependentes, sendo a Psicologia Escolar subordinada à Psicologia da Educação, uma área mais circunscrita e limitada no espaço, nos alvos de intervenção (Couceiro, 2013).
A finalidade principal da psicologia da Educação e da psicologia Escolar ou do ensino seria o de utilizar os conhecimentos dos princípios e métodos da psicologia para a análise e para o estudo dos fenómenos educativos (Coll et al, 2007). Mas como os fenómenos educativos passam por todas as faixas etárias (do nascimento à morte), ou seja assumimos a ideologia de aprendizagem ao longo da vida que pode ocorrer em múltiplos contextos ou seja, formais, informais e não-formais. (Trilla, 1993). O que nos leva a crer que os fenómenos educativos podem ter lugar na escola, na família, no centro de formação profissional, empresa… pode ocorrer com as crianças, os adolescentes, os adultos ou os idosos tendo também vários conteúdos como: conceitos, explicações, destrezas, atitudes, normas de comportamento, valores, assuntos escolares, técnicos, profissionais… Tudo isto tendo em conta a sua tripla dimensão: afetiva/relacional/social, psicomotora e cognitiva/metacognitiva e linguística. Isto leva-nos a crer que qualquer objeto pode ser alvo de estudo da Psicologia da Educação e do Ensino/Escolar (Couceiro, 2013).
Psicologia da Educação - estuda os processos educativos ou situações educativas:
· A compreensão e a sua explicação;
· As tentativas de planear ações educativas mais enriquecedoras e eficazes;
· Problemas que surgem de mudanças interpessoais;
· Problemas que surgem dos conhecimentos relativos aos processos de comunicação interpessoal, mediante os quais se exercita a influência educativa (Coll et al, 1999).
Resumindo: Estuda e analisa os processos de mudança do comportamento quer psicomotor, cognitivo, afetivo-social, que se reflete nas pessoas como consequência da sua participação nos diferentes tipos de situações ou actividades educativas (ensino e de aprendizagem), (Couceiro, 2013).
Na literatura podemos encontrar assim temas relacionados com a Psicologia da Educação:
1. Processos de mudança de comportamento que se produzem nas pessoas como resultado da sua participação em situações educativas;
2. Os fatores, as variáveis e as dimensões das situações educativas que se relacionam com os processos de mudança, contribuindo para explicar a sua orientação e as suas características;
3. Características dos diferentes tipos de práticas educativas, sobretudo os que estão mais presentes na sociedade atual, explorando as consequências no desenvolvimento e socialização dos indivíduos. (Coll et al, 1999).
A educação trata o seu objeto de estudo com uma tripla finalidade:
- Elaboração de uma teoria que permita compreender e explicar melhor esses processos ou seja, a dimensão teórica ou explicativa;
- Ajudar na elaboração de procedimentos, de estratégias, de modelos de planeamento e de intervenção que permitam orientar para uma dimensão mais projetiva ou tecnológica;
- Auxiliar no estabelecimento de algumas práticas educativas mais eficazes, mais satisfatórias e mais enriquecedoras para as pessoas que nelas participam – dimensão técnica ou prática. (Coll et all, 2000).
Este é um trabalho mais amplo do que a própria psicologia escolar, do ensino ou da instrução. Pois esta ultima, surge mais circunscrita ao ambiente escolar, formal, não se limitando todavia ao individuo, aluno que aprende os conteúdos e processos de aprendizagem estritamente formais e os fatores que incidem na aprendizagem. Esta tem como tópicos:
1. Processos de mudança intrapessoais, ou internos dos alunos: nível de desenvolvimento, maturidade intelectual, emocional, social, relacional e psicomotora; as experiências e os conhecimentos prévios; as características atitudinais, afetivas e de personalidade (estilos de aprendizagem, autoestima, autoconceito, nível de ansiedade, motivação, expectativas, interesses…);
2. Os processos que têm origem nas características das situações escolares de ensino e de aprendizagem: características do professor (conhecimento da matéria, preparação pedagógica, personalidade, etc.); condições materiais em que se desenvolvem as atividades escolares (materiais didáticos e meios de ensino em geral); metodologia de ensino utilizada; contexto institucional (objectivos, organização e funcionamento da instituição); dinâmicas de grupo e relações institucionais (Couceiro, 2013).
Desta forma, a Psicologia do Ensino é o conjunto de conhecimentos da Psicologia da Educação relativos à Psicologia Escolar (Couceiro, 2013).
2. Funções e modalidades de intervenção do psicólogo(a) escolar
O psicólogo(a)(a) escolar tem vários níveis de intervenção tais como junto ao sujeito que aprende, junto ao seu grupo de pares, aos educadores, aos pais, aos professores e agentes de ação educativa. Abordando não apenas os aspectos cognitivos e metacognitivos das aprendizagens formais como a leitura, a escrita, o cálculo, lógica mas também, ao nível psicomotor e afetivo, relacional, social ou seja, o humano no seu todo (Couceiro, 2013).
A Psicologia de hoje carateriza-se por uma atitude de respeito e de atenção à complexidade da realidade psicológica, numa perspetiva de maior intervenção, conducente à melhoria da qualidade de vida das pessoas. Assim, numa intervenção sistémica/comunitária, mais do que remediação, aposta-se na prevenção, na promoção, em termos escolares/académicos e em termos mais latos (sociais, etc.). Mais do que mudanças individuais, preconizam-se mudanças nos sistemas. A ênfase é colocada em intervenções multiníveis: aluno (s), professor, família, outros agentes educativos (comportamentos individuais, interações, etc.), e a escola é lida enquanto estrutura física, currículos, etc..... (Couceiro, 2013).
Assim podemos dividir a intervenção em 3 níveis:
1- Prevenção Primária – Atua evitando o surgimento de problemas e dificuldades, formulando intervenções para a população no geral visando a redução de incidência de novos casos ou situações problemáticas, tentando evitar assim as causas originadoras do problema (Apter, 1982). Ou seja, tenta intervir antes do aparecimento de qualquer sinal evidente de mal ajustamento. Alguns exemplos de prevenção primária são:
- Desenvolvimento de competências sociais, das relações, competências interpessoais (capacidades de resolução de problemas interpessoais);
- Desenvolvimento da autoestima e do autoconceito;
- Aprendizagem de estratégias de coping, i.e., estratégias para lidar com o stresse;
-Eliminar causas ou mediadores de mal-estar, pela modificação dos contextos (criar clima favorável, reduzir as situações de stresse, etc.);
- Estruturação das situações, de forma a reduzir o stresse e potenciar as relações interpessoais;
- Implementação de programas de desenvolvimento da aprendizagem autorregulada: aprendizagem de estratégias metacognitivas, cognitivas, motivacionais e comportamentais;
- Implementação de programas de treino de estratégias de estudo e de aprendizagem;
- Formação de pais: escolas de pais (sensibilização para todos os aspetos de desenvolvimento e de aprendizagem – educação);
- Formação de professores e outros agentes educativos (Couceiro, 2013).
2- Prevenção Secundária: este é um tipo de intervenção que ocorre quando já existe um problema manifesto, atuando com o objetivo de retardar e evitar que este se desenvolva (García et al., 1988). Este tipo de intervenção está previsto para populações em risco, ou seja, que ainda não manifestam dificuldades ou problemas, mas são vulneráveis, tendo muitas probabilidades de os vir a evidenciar. O objetivo primeiro é reduzir a duração e a severidade dos problemas e das dificuldades (Apter, 1982).
3- Prevenção Terciária: atua tentando impedir a cronicidade do problema e as eventuais sequelas que estes mesmos podem formular (García et al., 1988). Os programas são dirigidos a crianças, jovens, pais, professores, outros agentes educativos, de forma individual ou em grupo, que apresentam ou experienciaram já problemas ou dificuldades significativas. Isto é, estes programas estão vocacionados para tratamento, remediação, no sentido da redução dos efeitos, minimizando a dificuldade apresentada (Apter, 1982).
3. Contextos de intervenção do psicólogo(a) escolar
Tradicionalmente, o psicólogo(a)(a) escolar estará mais afeto às situações institucionais, escolares, ou seja, aos contextos formais de educação, a escola (pública ou privada, de diferentes níveis de ensino e de educação, se incluirmos o nível pré-escolar; para diferentes idades, até o idoso ou outro em situações de alfabetização; centros de apoio às aprendizagens escolares), os centros de saúde (de despiste e encaminhamento de aspetos relacionados com as questões de ordem escolar), lidando, preferencialmente, com os conteúdos e assuntos inerentes. Ou seja, uma vertente com preocupações mais de aprendizagens escolares e de orientação escolar e mesmo vocacional e profissional (Couceiro, 2013).