Teorias sobre a inteligência
O que é a inteligência?
A inteligência ainda é um tema que suscita muitas divergências na hora de a definir. No entanto, podemos dizer que a inteligência está na base de funções mais ou menos complexas, como a perceção, a memória, a aprendizagem, a cognição, o conhecimento, o entendimento, a compreensão, as ideias, os conceitos, o pensamento, o raciocínio e a resolução de problemas mas também a intuição, a atenção, a criatividade, a simbolização e mesmo a afetividade, que para muitos autores é visto como uma outra forma de inteligência (Barros, 1996).
Há autores como Gardner, que preferem falar em inteligências (no plural) ou de inteligências múltiplas, pois consideram que a inteligência pode ser mais convergente ou tradicional, mais divergente ou criativa, mais mecânica, mais intra ou interpessoal, mais cinestésica ou musical, mais verbal, mais numérica... (Barros e Barros, 1996).
Binet, foi um dos primeiros autores que se dedicou à medição desta faculdade considerando que "bem julgar, bem compreender, bem raciocinar - são estas as competências essenciais da inteligência" (Oleron, 1982). Já para Piaget (1967), a inteligência é a capacidade para o individuo se adaptar à realidade externa e interna, através dos processos dialéticos de assimilação-acomodação. No entanto, Freud foca-se sobretudo na ideia de pensamento, considerando que a razão é inseparável da necessidade, sendo que esta se desenvolva a partir do desejo ou pulsão de saber na área sexual, sendo depois generalizada a outras áreas (Barros, 1993).
Abordagens Clássicas da Inteligência:
Mas quando tentamos interpretar a inteligência, há 3 teorias, correntes ou abordagens clássicas:
- Teoria Factorial (psicométrica ou diferencial) - Todas as teorias factoriais se centram no produto ou seja, resultados cognitivos e não nas operações ou no processo que está subjacente a este. É por isso, um modelo descritivo e estático. Para alguns autores a inteligência pode ser definida como um fator geral (Spearman), para outros como um conjunto de fatores específicos havendo um fator reminiscente geral (Thurstone) ou ainda, como Guilford que considera existir uma multiplicidade de fatores sem a existência de um dominante (Ziv e Diem, 1975).
- Teoria Desenvolvimentista - Trata-se de um modelo mais dinâmico e intencional, considerando que é a procura pelo equilíbrio o motor do desenvolvimento cognitivo. Tendo como autores que lhe fazem jus, Piaget, Vygotsky e Bruner.
- Teoria Cognitivista - Esta é uma abordagem que se preocupa com a definição da inteligência e os processos que estão subjacentes à cognição. Tem como o autor mais representativo o Sternberg.
Diversidade de Teorias
Sternberg e Frensch (1990) afirmam que nenhum das teorias está totalmente certa ou completa, podendo sim ser complementares lidando com aspectos diferentes de um fenómeno extremamente complexo. Já em 1993, Sternberg e Wagner defendem a importância de sair do laboratório para a vida concreta, e em particular na educação escolar, tendo em conta que a inteligência não se processa no vácuo, mas sim num contexto preciso, que também pode ser extraescolar, onde a inteligência prática, tácita ou informal pouco tem a ver com a inteligência académica ou formal (Barros e Barros, 1996).
Outro problema que surge ao se falar da inteligência é a sua avaliação, havendo muitas críticas ao processo de construção destes testes, se incluem ou não a criatividade, em que medida estão presentes elementos culturais, etc. Havendo autores como Gardner, que consideram que a inteligência se deve avaliar sobretudo pela solução de problemas concretos e através de tarefas curriculares, sendo que Sternberg complementa esta ideia ao afirmar que os testes tradicionais do QI pouco avaliam a inteligência no "mundo real". Frederiksen (1986), chega mesmo a afirmar que é necessária uma dimensão mais ampla e menos estável da inteligência, que inclua um espectro mais amplo dos comportamentos inteligentes, pois a inteligência não é uma estrutura fixa podendo variar conforme a aprendizagem do sujeito e a alteração das circunstâncias (Barros e Barros, 1996).
Memória e Esquecimento
Agir intelectualmente passa por saber usar todos os materiais adquiridos ou aprendidos, o que não se faz sem memorização, o que leva a uma íntima ligação entre inteligência-aprendizagem-memória. Isto leva-nos a crer que se olharmos para uma perspetiva mais biológica da inteligência e como memória é um dos constituintes da inteligência, então há indivíduos mais predispostos do que outros para ter um grande poder de memorização (Barros e Barros, 1996).
No entanto, todas as perspetivas interpretativas da memória não devem ser extremadas, pois estão relacionadas com o estudo de diferentes tarefas de memória e por isso, devem convergir para a compreensão global. Pois, "perspetivar a memória apenas em função de um grupo de tarefas, é uma atitude reducionista que ignora não só a grande diversidade do real, mas também as formas complexas como a informação poderá estar codificada e retida na memória humana", (in Pinto, 1994).
Há aqui também uma certa progressão no que toca à concepção da memória, nas primeiras teorias considerava-se que no processo de memorização o sujeito agia passivamente; com as teorias dinâmicas e desenvolvimentistas, critica-se esta minimização dos fatores subjetivos, considerando o sujeito como activo e não apenas reativo, argumentando que os fatores afetivos e emocionais também interferem no processo da memória. Piaget vem introduzir uma ideia ainda hoje patente, que o contexto social e ambiental interferem no processo de memorização (Barros e Barros, 1996)
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