Relação Educativa

 

“Educar ou ensinar é relacionar-se ou comunicar com o educando e este com o educador. Por outras palavras: só haverá educação e ensino-aprendizagem se estabelecer uma boa interação ou comunicação entre os dois polos da dinâmica educativa: professor aluno.” (Barros e Barros, 1996)

Para educar é necessário ter em conta várias dimensões como comunicar, emitir e receber mensagens, e retransmiti-las (feedback), numa contínua circularidade. São vários os fatores que podem ser facilitar ou perturbar o processo comunicativo entre professores e alunos(as) (Barros e Barros, 1996).

  1. Perspectiva Psicanalítica da Relação Educativa
  • Importância do inconsciente na primeira “tópica” (teoria do aparelho psíquico), ou do id e superego na segunda teoria do aparelho psíquico;
  • Força da libido ou energia psíquica inconsciente;
  • Importância da sexualidade ou do desejo pulsional;
  • Importância dos mecanismos de defesa;
  • Presença da culpabilidade, a angústia e ansiedade (geradas pelo complexo de Édipo);
  • Importância da primeira infância e das fases evolutivas: oral, anal, fálica, latência, genital;
  • Distinção entre processo primário e secundário;
  • Tensão entre a pulsão de vida e de morte;

        A psicanálise enquanto psicoterapia pretende tornar o inconsciente em consciente, através da associação livre ou da análise dos sonhos. Todavia, não sendo a educação uma terapia, quando bem conduzida pode ajudar em neuroses ou problemas que afetam o(a) educando(a) , dirigindo-se ao consciente.

 

Interesse da psicanálise para a educação escolar

Há aspetos importantes da psicanálise que podem ser aplicados à educação e que ajudam a compreender a complexidade e profundidade da pessoa humana, quer do(a) professor(a), quer do aluno(a), e a consequente relação educativa (Barros e Barros, 1996).

Segundo Mauco (1977) os professores poderiam tornar a sua ação “limitada e por vezes nefasta” pois ignoram a linguagem dos sintomas. “A criança transfere naturalmente a sua energia libidinal para a atividade escolar: ler, escrever, contar, tornam-se substitutos do desejo de conhecer e de compreender, desejo que assediou os seus primeiros anos e culminou no Édipo com a angústia de um problema a resolver e de um mistério reservado aos adultos e donde se sentia excluída”.

 
O professor à luz da psicanálise

A psicanálise pode ajudar a perceber a personalidade do(a) professor(a) e da sua relação com os(as) alunos(as). Este “tem muitas vezes mais influência na criança pela sua sensibilidade inconsciente do que pelo seu comportamento consciente” (Mauco, 1977).

Mauco refere ainda que “o que é importante na educação não é apenas o que o educador diz ou faz, mas o que ele é e o que pode inconscientemente sentir; qualquer método pedagógico vale o que valer aquele que o aplica”.

 
Relação educativa e mecanismos de defesa:

A criança começa por ser em grande parte aquilo que são os pais e continua a ser o que são os professores, situando-se numa relação go-between, isto é, a criança torna-se um mensageiro entre os pais e o(a) professor(a). Por vezes, o insucesso e a inadaptação devem-se a uma má relação afetiva com o professor ou deste com o(a) aluno(a) (Barros e Barros, 1996).

Em geral, na relação educativa estão presentes todos os mecanismos de defesa e de adaptação do ego, quer do(a) professor(a), quer do aluno(a), como a sublimação, a compensação, a transferência, a contratransferência e ainda a sedução, o recalcamento e a regressão (Barros e Barros, 1996).

 
Interpretação fenomenológica da relação educativa

A teoria rogeriana, centrada no cliente, também aplicou à educação os seus princípios terapêuticos.

Para que haja uma boa aprendizagem o(a) aluno(a) deve poder contactar com situações problemáticas o que acontece mais facilmente em trabalhos de grupo ou em aulas práticas, onde os(as) alunos(as) sentem os problemas mais ligados a si e onde são obrigados a usar a sua experiencia para resolver problemas (Barros e Barros, 1996).

Os princípios terapêuticos são ainda empregues na educação no que respeita à autenticidade que o professor manifesta em relação aos alunos(as), sentindo-se recetivo perante os seus problemas reais – fazendo com que se torne uma pessoa real nas suas relações com os alunos(as). Deve ainda aceitar e compreender o aluno tal como ele é (Barros e Barros, 1996).

 
Comunicação não-verbal na relação educativa

Segundo Dupont (1982) para que haja uma relação na sala de aula também é necessário ter em atenção as “vias não-verbais da relação pedagógica”. A comunicação verbal pode facilitar ou inibir a aprendizagem e o comportamento dos(as) alunos(as).

Alunos(as) e professores enviam reciprocamente sucessivas mensagens não-verbais, como as expectativas mútuas que podem influenciar o rendimento e o comportamento do aluno(a). Todavia nem sempre é fácil descodificar este tipo de mensagens.

 

Variáveis psicossociológicas e institucionais da relação educativa

Importância das representações na relação educativa

Gilly (1980) diz desconfiar da relação pedagógica porque seria arriscado pensar que uma melhoria na relação professor-aluno resolveria à partida grande parte dos problemas escolares, sem ter em conta os objetivos, estruturas e modalidades de funcionamento da instituição. As mudanças no processo educativo pressupõem também uma mudança no que respeita à instituição.

Esta autora refere ainda que a importância das representações depende do significado que cada um lhes atribui, pelo que devem ser interpretadas numa perspetiva plurifactorial e interaccionista no que toca aos comportamentos. São importantes as representações que o professor tem dos alunos(as) e vice-versa. Porém podem existir dissonâncias: o(a) professor(a) espera do(a) aluno(a) competências cognitivas, enquanto o(a) aluno(a) espera do(a) professor(a) compensações afetivas (Barros e Barros, 1996).

 
Estatuto do professor e do aluno

      “O professor é considerado o detentor do saber e do poder, poder que lhe advém em grande parte da sua competência científica, mas também do seu direito de avaliação e do seu estatuto social, além dos seus dotes de personalidade.” (Barros e Barros, 1996)

O estatuto do(a) professor(a) depende principalmente das atribuições que a sociedade e o momento político lhe fazem, sofrendo constantes alterações inerentes à evolução social.

Para Postic (1984) “a função docente, que exige dos seus membros uma adaptação a papéis cada vez mais diversificados e a mudanças de atitude, é agora de natureza conflitual. Colocando numa posição social desfavorável, agitado pelas incertezas das reformas, atormentado pelo receio de não se poder adaptar às mudanças, o docente já não consegue descobrir as características da sua função e, ainda menos, determinar as modalidades da sua ação. Já não tem a segurança de quem sabe para onde deve orientar o aluno, e é um ser que procura, sem cessar, a maneira de se situar em relação ao seu aluno, aos pais e à sociedade.”

Relativamente ao aluno(a), este tem um papel transitório. O seu estatuto influencia a imagem que a criança ou o adolescente faz de si mesmo – sendo ainda influenciada pela imagem que o(a) professor(a) e os colegas têm a seu respeito (Barros e Barros, 1996).

 

Análise sociológica da relação educativa

Segundo Postic (1984) a relação pedagógica pode ser considerada de várias prespectivas:

  1. Como relação dominante. Aqui os fins da educação soa determinados pela sociedade, que deste modo moldam a nova geração. O(a) educador(a) assume uma posição de autoridade pelo facto de ser representante da sociedade.
  2. Como relação de produção. Pautando-se por uma interpretação marxista da sociedade, as relações sociais são na sua essência de produção. A escola assegura a reprodução das relações através de níveis de qualificação que correspondem à divisão do trabalho. As diferentes vias de ensino devem-se à divisão da sociedade em classes e destinam-se a mantê-las.
  3. Como cultura dominante. O sistema educativo reflete uma sociedade hierarquizada, encontrando-se no topo a classe privilegiada, detentora de cultura.
 
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